
Introdução: Fístulas anorretais são conexões entre o canal anorretal e a área perianal, frequentemente resultantes de drenagem de abscessos perianais. Têm incidência média de 8,6 por 100.000 habitantes. Pacientes geralmente apresentam fístula drenante com sintomas de gravidade, necessitando de intervenção cirúrgica para evitar recorrências e incontinência. Durante a pandemia da COVID-19, os distúrbios proctológicos perderam prioridade, resultando em adiantamento de diagnósticos e tratamentos. Objetivos: Realizar uma análise temporal do tratamento de fístulas anorretais no Brasil ao longo da última década e identificar sua relação com a pandemia. Método: Estudo transversal, documental e quantitativo, com amostra de 102.666 procedimentos de fechamento de fístula retal e fistulectomia/fistulotomia anal notificados no SIH/SUS entre 2014-2023, disponível no Departamento de Estatística do SUS. Avaliaram-se as variáveis por número de Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) aprovadas e caráter do atendimento. Resultados: O número de procedimentos alcançou seu mínimo em 2020 (6.583), 44,9% a menos que em 2019 (11.955), atribuída à menor procura por atendimentos eletivos durante a pandemia. Apesar da diminuição geral, a proporção de procedimentos urgentes aumentou de 14,8% em 2019 para 25,3% em 2021, possivelmente devido ao agravamento dos casos em decorrência de diagnósticos atrasados, sem demonstrar ser um fator de risco para a recorrência da doença. Conclusão: Houve redução significativa no número de tratamentos de fístulas anorretais nos dois primeiros anos de pandemia, com aumento relativo no número desses procedimentos em situações de urgência, indicando maior gravidade dos casos no momento da abordagem.