Revista Científica do Hospital e Maternidade José Martiniano Alencar

Análise comparativa e temporal do tratamento de fístulas anorretais no Brasil nos últimos 10 anos: relação com a Covid-19?

Natan Rolim de Assunção Bisio — 2025-09-29

Introdução: Fístulas anorretais são conexões entre o canal anorretal e a área perianal, frequentemente resultantes de drenagem de abscessos perianais. Têm incidência média de 8,6 por 100.000 habitantes. Pacientes geralmente apresentam fístula drenante com sintomas de gravidade, necessitando de intervenção cirúrgica para evitar recorrências e incontinência. Durante a pandemia da COVID-19, os distúrbios proctológicos perderam prioridade, resultando em adiantamento de diagnósticos e tratamentos. Objetivos: Realizar uma análise temporal do tratamento de fístulas anorretais no Brasil ao longo da última década e identificar sua relação com a pandemia. Método: Estudo transversal, documental e quantitativo, com amostra de 102.666 procedimentos de fechamento de fístula retal e fistulectomia/fistulotomia anal notificados no SIH/SUS entre 2014-2023, disponível no Departamento de Estatística do SUS. Avaliaram-se as variáveis por número de Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) aprovadas e caráter do atendimento. Resultados: O número de procedimentos alcançou seu mínimo em 2020 (6.583), 44,9% a menos que em 2019 (11.955), atribuída à menor procura por atendimentos eletivos durante a pandemia. Apesar da diminuição geral, a proporção de procedimentos urgentes aumentou de 14,8% em 2019 para 25,3% em 2021, possivelmente devido ao agravamento dos casos em decorrência de diagnósticos atrasados, sem demonstrar ser um fator de risco para a recorrência da doença. Conclusão: Houve redução significativa no número de tratamentos de fístulas anorretais nos dois primeiros anos de pandemia, com aumento relativo no número desses procedimentos em situações de urgência, indicando maior gravidade dos casos no momento da abordagem.

Neoplasia incidental de vesícula biliar após colecistectomias eletivas: uma análise retrospectiva

Cid Gerardo Paracampos Liberato Neto — 2025-09-29

Objetivos: Relatar a incidência de câncer incidental de vesícula biliar após colecistectomias eletivas em um hospital secundário do SUS, comparando-a com a literatura e revisando os fatores de risco e condutas relacionados a essa condição. Material e Métodos: Estudo unicêntrico, retrospectivo, não randomizado e observacional de pacientes que foram submetidos a cirurgia de colecistectomia de janeiro a dezembro de 2024 no Hospital José Martiniano de Alencar, Fortaleza, Ceará. Foram incluídos pacientes que retornaram para avaliação pós-operatória da peça cirúrgica e excluídos aqueles que perderam o seguimento. Resultados: Dos 1078 pacientes aptos, 934 eram do sexo feminino e 144, do sexo masculino, todos operados por colelitiase sintomática. Foram diagnosticados 4 casos de câncer incidental da vesícula biliar, representando uma incidência de 0,37%. Três desses casos se enquadraram como neoplasia intraepitelial de baixo grau, todas em pacientes do sexo feminino, com idade média de 53 anos e sem necessidade de cirurgia complementar. O quarto caso foi identificado em jovem do sexo masculino, operado por pólipo de 1cm, mas achado de massa no intra-operatório, com histopatológico confirmando neoplasia pt2a e acometimento de ducto cístico, submetido a cirurgia de resgate com 3 semanas, porém com evidência de doença metastática. um fator que deve ser levado em consideração no estudo é a alta taxa 11,05% de perda de seguimento de pacientes que não retornaram para avaliação pós-operatória. Conclusões: A incidência encontrada de câncer incidental em colecistectomias eletivas foi baixa, mas ressaltamos que seu diagnóstico é de grande importância devido o prognóstico da doença e para o adequado manejo pós-operatório. Atenção a fatores de risco como idade avançada, a colelitíase e pólipos maiores ou iguais a 1 cm, pode ajudar a identificar pacientes com maior chance de desenvolver essa condição. O manejo do câncer biliar incidental deve ser individualizado, com base nas características clínicas e patológicas de cada caso.

Perfil epidemiológico de pacientes submetidos a cirurgias colorretais e análise da incidência de fístulas anastomóticas em hospital secundário - de 2019 a 2024

Davidson Anthony Aragão Freire — 2025-09-29

Objetivos: A fístula anastomótica é uma das complicações mais graves em uma cirurgia colorretal. O estudo visou traçar um perfil dos pacientes submetidos a cirurgias colorretais e identificar os fatores de risco envolvidos na ocorrência de fístulas. Métodos: Foi realizada revisão dos prontuários de 114 pacientes submetidos a cirurgias colorretais e avaliação dos dados relacionados a sexo, idade, patologia de base, tipo de cirurgia, via de acesso, incidência de fístulas anastomótica, classificação e seu manejo, morbimortalidade. Resultados: A incidência global de fístulas foi de 10,5% e os fatores mais associados a fístulas anastomóticas foram sexo masculino (RR=1,89 IC:95%; 0,54 - 6,59), história de diverticulite aguda (RR 2,03 IC:95%; 0,51 - 6,09), cirurgia laparotômica (RR=2,5 IC:95%; 0,8 - 8,3) e anastomose envolvendo o reto (RR=2,8 IC:95%; 0,8 - 9,8). O tratamento conservador foi a principal abordagem (50%), seguida da reabordagem (41,7%) e a menor parte foi manejada com drenagem percutânea (8,3%). A mortalidade e letalidade foram respectivamente de 0,87% e 8,3%. Conclusões: A análise dos dados sugere que sexo masculino, pacientes com história de diverticulite aguda, anastomose baixa e cirurgia laparotômica sejam os fatores mais associados ao desenvolvimento de fístulas anastomóticas, todavia sem significância estatística. A incidência geral de fístulas é ligeiramente menor que os valores encontrados na literatura mundial, enquanto a mortalidade está bem abaixo do esperado, o que reforça a excelência e experiência deste serviço na realização deste tipo de cirurgia. O tratamento conservador foi suficiente na maioria dos casos.

Treinamento dos médicos residentes do serviço de cirurgia geral e digestiva em um centro de atenção terciária de Fortaleza, Ceará

Paulo Roberto Araújo Barreto — 2025-09-29

A coleta dos dados dos procedimentos cirúrgicos realizados são essenciais para analisar o benefício social da entidade, a qualidade do treinamento dos residentes e para melhor alocação de recursos. O estudo analisa o treinamento de médicos-residentes em Cirurgia Geral e Digestiva de um centro de atenção terciária em Fortaleza, Ceará, entre março de 2022 e janeiro de 2023. Participaram oito residentes, atuando como primeiro auxiliar cirúrgico ou membro mais ativo em 1334 procedimentos cirúrgicos eletivos, excluindo-se cirurgias canceladas, de urgência, e dados inadequados. A formação dos residentes foi dividida em Cirurgia Básica (2 anos) e Cirurgia Geral (3 anos), conforme diretrizes do CBC e do MEC. Predominaram procedimentos de média complexidade, especialmente colecistectomias videolaparoscópicas e hernioplastias inguinais. Cada residente de 2 anos realizou em média 362 procedimentos e os de 3 anos, 545 procedimentos. O treinamento é abrangente, mas é necessário melhor planejamento para apendicectomias e esplenectomias.

Editorial

Manoel de Jesus Rodrigues Mello — 2025-09-29

Peer-based learning: aplicação no ensino cirúrgico de acadêmicos

Isabela Franco Freire — 2025-09-29

A aprendizagem baseada em pares promove a troca de conhecimentos e o aperfeiçoamento da formação médica. No ensino de cirurgia, as ligas acadêmicas ajudam a suprir lacunas da graduação, integrando teoria e prática. O "Mês de Imersão em Cirurgia e Emergência" (MICE), organizado por uma liga acadêmica, ofereceu 40 horas de aulas teóricas e práticas com especialistas e alunos capacitados. O evento teve ampla adesão e recebeu feedback positivo, destacando a importância da abordagem prática no aprendizado dessa especialidade. A experiência reforça o impacto do ensino entre pares na formação de médicos mais preparados, incentivando iniciativas semelhantes na educação cirúrgica.

Adenoma hepático com ruptura: uma apresentação incomum com revisão de literatura e relato de caso

José Leonardo Gomes Rocha Júnior — 2025-09-29

Os Adenomas Hepáticos são tumores hepáticos benignos, porém com potencial significativo de complicações, incluindo a rotura espontânea, que por sua vez pode levar a um estado de choque hemorrágico. O presente estudo tem como objetivo revisar a apresentação clínica, o manejo e os desfechos destes Adenomas Hepáticos, além de relatar um caso observado em um hospital terciário no Ceará. Foi realizada uma revisão de literatura nas bases de dados PubMed, Lilacs e Cochrane, utilizando descritores relacionados ao adenoma hepático roto e seus desfechos. Foram incluídos 9 estudos que abordam as características dos pacientes, as abordagens terapêuticas (cirúrgicas e não cirúrgicas) e os principais desfechos clínicos. O caso relatado envolve uma paciente de 38 anos com adenoma hepático roto, que apresentou complicações hemorrágicas e foi submetida a múltiplas intervenções cirúrgicas. A revisão e o relato de caso reforçam a necessidade de uma abordagem individualizada para o manejo do adenoma hepático roto, considerando os riscos de complicações graves e a importância do monitoramento pós-operatório.

Intussuscepção ileocólica por lipoma: relato de caso e revisão da literatura

Cid Gerardo Paracampos Liberato Neto — 2025-09-29

A intussuscepção intestinal é uma causa rara de obstrução intestinal em adultos, representando menos de 1% dos casos de obstrução mecânica. Os lipomas intestinais são lesões benignas incomuns que podem ter apresentação assintomática, mas podem funcionar raramente como ponto de invaginação intestinal. Esse artigo relata o caso de uma paciente de 58 anos, com quadro de obstrução intestinal íleo-cólica com diagnóstico pós operatório de lipoma intestinal e reforça a importância de um diagnóstico precoce por imagem seguida de abordagem cirúrgica adequada para manejo do paciente.

Mutirão de pequenas cirurgias para pacientes da zona rural

Raíra Marques Oliveira — 2025-09-29

As cirurgias ambulatoriais são procedimentos de curta duração e com baixo risco de complicações, essenciais para o tratamento de condições médicas eletivas que afetam a qualidade de vida dos pacientes. Contudo, a alta demanda na rede pública e a limitação de recursos resultam em longas filas de espera, dificultando o acesso a esses serviços. Os mutirões de pequenas cirurgias surgem como uma estratégia eficaz para oferecer um atendimento rápido e seguro. Este estudo relata um mutirão promovido pela Liga Acadêmica de Cirurgia Geral da Universidade de Fortaleza, no qual foram atendidos 39 pacientes e realizados 51 procedimentos, reduzindo a demanda na rede pública de saúde e proporcionando aprendizado prático aos acadêmicos. Apesar dos desafios relacionados à triagem e à obtenção de recursos, a elevada satisfação dos pacientes evidencia a efetividade e o impacto positivo do mutirão.

Neoplasia cística mucinosa do fígado: relato de caso e revisão da literatura

Davidson Anthony Aragão Freire — 2025-09-29

A neoplasia cística mucinosa do fígado e da via biliar representam uma entidade rara, caracterizada por morfologia peculiar, encontrada mais comumente em adultos e principalmente mulheres dos 40 a 50 anos. Clinicamente, esses tumores podem ser causa de dor abdominal, sintomas compressivos e icterícia. Em 85% dos casos a lesão se desenvolve no fígado, enquanto o acometimento dos ductos biliares extra-hepáticos e da vesícula biliar é ainda mais raro. O diagnóstico diferencial entre cistadenoma e cistadenocarcinoma é difícil no pré-operatório, portanto, a ressecção cirúrgica com margens é recomendada pelo risco de malignidade.

Nervo laríngeo não recorrente: um relato de caso

Marcos Vinicius Farias — 2025-09-29

Introdução: Um dos passos fundamentais enfrentados pelos cirurgiões durante a tireoidectomia reside na identificação e preservação dos nervos laríngeos, em particular o nervo laríngeo recorrente (NLR), e sua variação anatômica, o nervo não recorrente. Relato de caso: Mulher, 39 anos, que apresentou disfagia, dispneia aos esforços físicos e disfonia. Na USG de tireoide foi detectado nódulo sólido. Foi submetida, então, à tireoidectomia e, durante a dissecção para identificação do nervo laríngeo recorrente direito, foi observado que estava emergindo diretamente do nervo vago à laringe. Discussão: Embora a presença de variantes anatômicas do NLI tenha sido associada a um aumento do risco de lesões iatrogênicas durante cirurgias na região da cabeça e tórax superior, ainda não foi comprovado que a aplicação sistemática de estudos de imagem pré-operatórios pode efetivamente reduzir esse risco. Conclusão: A presença do não recorrente destaca a importância da dissecção sistemática do nervo laríngeo inferior durante cirurgias.